"As Tic são encaradas como que potencializadoras de uma aprendizagem, mas, contudo, ainda são encaradas curricularmente como instrumentais, pois não as encaram conjuntamente com as questões envolvidas no processo de ensino e de aprendizagem – questões de definição dos objectivos de aprendizagem, selecção dos métodos de ensino, das tarefas e estratégias de aprendizagem, bem como das formas de avaliação e de acompanhamento dessas aprendizagens (...)"
" Parece, então entrar-se no campo da contradição, onde as grandes orientações curriculares governamentais apontam para uma integração e consideração das Tic na sua profundidade conceptual nos currículos, e, por outro lado, os autores dos programas escolares relegarem para “segundo plano” o potencial de aprendizagem das Tic ao usarem-nas como meros instrumentos. Todavia, esta é uma prática presente em quase todos os programas do ensino básico português, o que, é de facto, apropriar-se de uma “revolução conceptual” pela “rama” e não pela sua profundidade essencial." - Excerto do Relatório do Módulo 1
Esta questão parece apontar para um fraco desenvolvimento curricular, ou então para um "deficit" de entendimento de toda a amplitude de aplicabilidade e potencialidade que as Tic têm.
Então como reorganizar um currículo com base na integração das tic? A reorganização curricular, segundo Carlinda Leite (2001, in A Reorganização Curricular do Ensino Básico), “coincide com um modelo caracterizado pela concepção de currículo como projecto e como algo que se afasta do mero ensino-aprendizagem dos conteúdos programáticos prescritos a nível nacional”.
Para que seja possível fazer uma reorganização curricular, é necessário que se tenha em mente que a escola existe, para formar e educar, e que esta escola necessita de mudanças que acompanhem o desenvolvimento, e que combatam o insucesso. Daí se dizer que a organização curricular e a forma como se desenvolve o currículo, são uns dos factores que mais influenciam o desigual sucesso escolar dos alunos.
É necessário que se repense o currículo para que este incorpore as situações locais e se sustente em processos que tornem significativo a escola, para quem a vai frequentar. Para que esta tarefa seja facilitada, o pensamento está a evoluir no sentido de que os professores e outros actores educativos locais, se envolvam e repensem também o currículo, a sua organização e desenvolvimento, participando activamente na gestão curricular, dado que estes estão próximos do plano real do currículo.
O currículo deve mudar, tendo em conta a diversidade de alunos para a qual é pensado. Sabemos que não existem duas crianças iguais e que existe necessidade de ser criado um currículo para um só aluno. É aqui que se verifica a diferença entre o plano oficial e o plano real. O plano oficial necessita de respeitar o que se passa no real e assim mudar para que se conjuguem a aprendizagem e as necessidades próprias de cada aluno.
Esta gestão curricular que se pede pressupõe que se analisem situações, que se tomem decisões e se intervenha em conformidade com essas decisões e com o balanço que se vai fazendo dessa acção. Ou seja, em suma, pressupõe que se reconstrua o currículo proposto a nível nacional; que se trabalhe em equipa de modo a que se dê sentido colectivo às acções individuais; que se tome iniciativas que levem ao desenvolvimento e configuração de um currículo mais rico e, por fim, que se avalie o projecto curricular concebido e realizado.
Contudo a reorganização curricular, não pressupõe só uma flexibilização do currículo ou gestão curricular, mas também um exercício de autonomia. Este implica que o técnico que trabalha para a gestão do currículo se considere e seja considerado um profissional com autoridade, na medida em que é entendido como autor e criador.
Na actualidade, e saindo da perspectiva de Carlinda Leite (2001, in A Reorganização Curricular do Ensino Básico), o problema da reorganização curricular, está também envolvido no plano tecnológico. Uma das formas de o demonstrar, é através do Fórum da Reorganização Curricular na internet. Este fórum tem três objectivos fundamentais:
-Promoção do intercâmbio de experiências entre os vários actores educativos, com particular realce para os professores;
-A resposta rápida e eficaz às questões colocadas no âmbito da Reorganização Curricular, diversificando o seu emissor;
- Aproximação do Departamento de Educação Básica (DEB) da realidade das escolas.
Segundo os investigadores, os objectivos foram amplamente conseguidos e superados, o que mostra realmente o desenvolvimento que o currículo teve nos últimos anos. Os resultados desta investigação mostram o forte empenhamento dos professores e dos outros agentes educativos, mas não basta. Dever-se-á entender as Tic como que um filtro (Ralph Tyler) segundo no qual se constrói o currículo. Mais do que considerar a sua existência é aglutinar as Tic à essência curricular.
As TIC como filtro (Ralph Tyler)? Não será dar demasiada importância às TIC? Não será mais adequado investir em investigação acerca do papel e implicações das TIC no processo de ensino-aprendizagem?
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