sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

As Tic e o curriculo

"As Tic são encaradas como que potencializadoras de uma aprendizagem, mas, contudo, ainda são encaradas curricularmente como instrumentais, pois não as encaram conjuntamente com as questões envolvidas no processo de ensino e de aprendizagem – questões de definição dos objectivos de aprendizagem, selecção dos métodos de ensino, das tarefas e estratégias de aprendizagem, bem como das formas de avaliação e de acompanhamento dessas aprendizagens (...)"

" Parece, então entrar-se no campo da contradição, onde as grandes orientações curriculares governamentais apontam para uma integração e consideração das Tic na sua profundidade conceptual nos currículos, e, por outro lado, os autores dos programas escolares relegarem para “segundo plano” o potencial de aprendizagem das Tic ao usarem-nas como meros instrumentos. Todavia, esta é uma prática presente em quase todos os programas do ensino básico português, o que, é de facto, apropriar-se de uma “revolução conceptual” pela “rama” e não pela sua profundidade essencial." - Excerto do Relatório do Módulo 1

Esta questão parece apontar para um fraco desenvolvimento curricular, ou então para um "deficit" de entendimento de toda a amplitude de aplicabilidade e potencialidade que as Tic têm.

Então como reorganizar um currículo com base na integração das tic? A reorganização curricular, segundo Carlinda Leite (2001, in A Reorganização Curricular do Ensino Básico), “coincide com um modelo caracterizado pela concepção de currículo como projecto e como algo que se afasta do mero ensino-aprendizagem dos conteúdos programáticos prescritos a nível nacional”.

Para que seja possível fazer uma reorganização curricular, é necessário que se tenha em mente que a escola existe, para formar e educar, e que esta escola necessita de mudanças que acompanhem o desenvolvimento, e que combatam o insucesso. Daí se dizer que a organização curricular e a forma como se desenvolve o currículo, são uns dos factores que mais influenciam o desigual sucesso escolar dos alunos.

É necessário que se repense o currículo para que este incorpore as situações locais e se sustente em processos que tornem significativo a escola, para quem a vai frequentar. Para que esta tarefa seja facilitada, o pensamento está a evoluir no sentido de que os professores e outros actores educativos locais, se envolvam e repensem também o currículo, a sua organização e desenvolvimento, participando activamente na gestão curricular, dado que estes estão próximos do plano real do currículo.

O currículo deve mudar, tendo em conta a diversidade de alunos para a qual é pensado. Sabemos que não existem duas crianças iguais e que existe necessidade de ser criado um currículo para um só aluno. É aqui que se verifica a diferença entre o plano oficial e o plano real. O plano oficial necessita de respeitar o que se passa no real e assim mudar para que se conjuguem a aprendizagem e as necessidades próprias de cada aluno.

Esta gestão curricular que se pede pressupõe que se analisem situações, que se tomem decisões e se intervenha em conformidade com essas decisões e com o balanço que se vai fazendo dessa acção. Ou seja, em suma, pressupõe que se reconstrua o currículo proposto a nível nacional; que se trabalhe em equipa de modo a que se dê sentido colectivo às acções individuais; que se tome iniciativas que levem ao desenvolvimento e configuração de um currículo mais rico e, por fim, que se avalie o projecto curricular concebido e realizado.

Contudo a reorganização curricular, não pressupõe só uma flexibilização do currículo ou gestão curricular, mas também um exercício de autonomia. Este implica que o técnico que trabalha para a gestão do currículo se considere e seja considerado um profissional com autoridade, na medida em que é entendido como autor e criador.

Na actualidade, e saindo da perspectiva de Carlinda Leite (2001, in A Reorganização Curricular do Ensino Básico), o problema da reorganização curricular, está também envolvido no plano tecnológico. Uma das formas de o demonstrar, é através do Fórum da Reorganização Curricular na internet. Este fórum tem três objectivos fundamentais:

-Promoção do intercâmbio de experiências entre os vários actores educativos, com particular realce para os professores;

-A resposta rápida e eficaz às questões colocadas no âmbito da Reorganização Curricular, diversificando o seu emissor;

- Aproximação do Departamento de Educação Básica (DEB) da realidade das escolas.

Segundo os investigadores, os objectivos foram amplamente conseguidos e superados, o que mostra realmente o desenvolvimento que o currículo teve nos últimos anos. Os resultados desta investigação mostram o forte empenhamento dos professores e dos outros agentes educativos, mas não basta. Dever-se-á entender as Tic como que um filtro (Ralph Tyler) segundo no qual se constrói o currículo. Mais do que considerar a sua existência é aglutinar as Tic à essência curricular.





1 comentário:

  1. As TIC como filtro (Ralph Tyler)? Não será dar demasiada importância às TIC? Não será mais adequado investir em investigação acerca do papel e implicações das TIC no processo de ensino-aprendizagem?

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