domingo, 21 de novembro de 2010

O que é Curriculo?

Ao definir currículo, Tomás Tadeu da Silva (2000) afirma que o currículo é trajectória, percurso. O currículo é autobiografia, a nossa vida, o curriculum vitae: no currículo forja-se a nossa identidade. (...) O currículo é documento de identidade”. Claude Dubar (1995), por outro lado, ao referir-se à construção da identidade profissional como articulação de duas transacções, Dubar considera de grande relevância, no caso das identidades profissionais, a identidade profissional de base, enquanto parte da transacção biográfica, e define-a como trajectória ou projecção que põe em jogo imagens de si, apreciações de capacidades e realizações de desejos. Esta aproximação entre currículo e biografia está, aliás, presente no étimo latino currere, que significa caminho, percurso, trajectória. Os objectivos que prosseguimos incitam-nos, no entanto, não só a distinguir entre currículo e biografia, mas também entre diversas acepções e dimensões do currículo.

Com efeito, as concepções de currículo são diversas, de acordo com as perspectivas teóricas preferidas e com as dimensões enfatizadas.

Numa concepção ainda dominante, o currículo é sinónimo de programa. Trata-se de uma concepção que nos remete para os programas nacionais ou para o currículo escolar na sua faceta instituída. Recebendo diferentes designações em diferentes autores – “currículo formal”, “currículo oficial” e “currículo prescrito”, respectivamente para Perrenoud (1995), Goodlad (1979) e Gimeno (1988), esta visão do currículo diz respeito ao que é legitimado pelos poderes instituídos e corresponde a um sistema formal de conhecimentos e valores definidos como válidos para todos, independentemente de outras variáveis. O “currículo formal” é o currículo explícito, hegemónico e homogéneo. Corresponde-lhe um desenvolvimento curricular de tipo prescritivo.

O “currículo informal” refere-se a toda a actividade que faz parte da vida escolar dos alunos. Visto como algo em construção, o currículo informal é um plano organizado, que inclui conteúdos, métodos e meios. Recebendo também designações diversas - “currículo real” (Kelly, 1980; Perrenoud, 1995), “currículo realizado” (Gimeno, 1988) ou “currículo experiencial” (Goodlad, 1979) - , o “currículo informal” diz respeito ao que realmente se faz, independentemente, ou para além, do formalmente previsto. O desenvolvimento curricular assumido de forma autónoma e reflexiva, por parte de professores ou de alunos, assenta nesta concepção de currículo, razão pela qual pode receber o nome de “currículo reflexivo”. Santomé (1995) considera-o também o “currículo oculto” (“implícito”, “latente”, “escondido” ou “paralelo”), dimensão relacionada com os processos de socialização inerentes às diversas experiências escolares, académicas ou não académicas, que transportam consigo valores, com impacto na formação, sem que cheguem, alguma vez, a explicitar-se como metas educativas a atingir intencionalmente. Ela diz respeito a “todos aqueles conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que se adquirem mediante a participação em processos de ensino e aprendizagem e, em geral, em todas as interacções que se dão no dia-a-dia das aulas e escolas” (ibid:201).

1 comentário:

  1. Depois de uma breve leitura ocorre-me pensar que, umas das vantagens do currículo é poder sair-se dele. O seu contributo para a discussão vai além das propostas de Klein e envia-nos para um domínio de conhecimento que considero particularmente interessante que é o do Currículo.
    Felicito-a pela criação deste seu espaço.
    Isabel

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